CARTA AO PRIMEIRO-MINISTRO
Sr. Primeiro Ministro:
Apesar de tudo, duas virtudes lhe devem ser reconhecidas: a
CORAGEM, por estar a governar sem se preocupar com a enorme penalização de
votos no seu partido em próximas eleições e simultaneamente o facto de ter
decidido cortar na despesa do Estado que consome a própria riqueza do País,
tarefa que durante estas décadas ninguém se atreveu a fazê-lo; e a FORTALEZA,
pela perseverança que tem demonstrado perante as constantes críticas, pressões
e descontentamento quase generalizado.
Porém, agora, chegou a hora de ABALAR.
O seu semblante vai-se tornando cada vez mais macilento e o
próprio cabelo dá já indícios de progressiva calvície. Imagino o próprio
desassossego no seu ambiente familiar, a crescente intranquilidade e a
preocupação daqueles que mais o estimam. O esforço tem limites e o cansaço pode
gerar situações muito delicadas. As incoerências sucessivas são já sintoma
disso. Dirá que ainda tem bastante energia e não se pode parar a meio do
caminho…
Porém, agora, chegou a hora de ABALAR.
Em política, há uma realidade incontornável: NÃO SE PODE
GOVERNAR CONTRA A VONTADE DE UM POVO. E isso é uma evidência que já não escapa
ao cidadão mais comum. Bem sabemos que as populações, ao votarem, igualmente
têm de assumir as suas responsabilidades, particularmente quando um governo
detém uma maioria absoluta no parlamento. Mas acontece que, nos últimos tempos,
o próprio Estado passou a ser o mais descarado e impune dos ladrões, tirando às
pessoas aquilo em que jamais se deveria tocar e que até a anterior Ditadura sempre
respeitou. Há certamente uma dívida externa e compromissos a cumprir, mas isso
também é indissociável de um sistema mundial injusto e iníquo, em que certas
nações exploram e oprimem outras nações e os juros cobrados são um verdadeiro
atentado aos direitos humanos mais sagrados e universais. Nisso, o Parlamento
Europeu tem culpas gravíssimas, pois, legislação aprovada em devido tempo e com
carácter internacional, não teria deixado alguns dos seus Estados membros à
mercê de autênticos piratas, como são as agências de “rating” e toda essa massa
corrupta de investidores, oportunistas e gananciosos. Só os interesses
subterrâneos e a incompetência podem explicar o facto de ainda hoje a European
Union andar à procura de soluções e consensos que já deveriam estar estabelecidos
logo nos primeiros anos da sua fundação! Sim, é sabido que as medidas de
austeridade que implementou no País têm recebido elogios repetidos de
personalidades lá fora…
Porém, agora, chegou a hora de ABALAR.
É claro que não vai demitir-se assim, de qualquer modo. Nem
o Presidente da República poderia fazê-lo. Cabe sempre ao Parlamento decidir e
a sua soberania, nesta matéria, sempre foi evocada e reclamada ao longo dos
anos por todos os partidos, mesmo que alguns esqueçam isso, consoante “a lua” e
“as marés”. Como, então, fazer? Apresente uma MOÇÃO DE CONFIANÇA, sem desligar
dela as mais recentes medidas de austeridade a implementar, sobretudo na Função
Pública e incluindo igualmente os anunciados cortes nas pensões dos reformados.
Pedagogicamente, saberá também que “marinheiros” navegavam consigo no mesmo
“barco”. Essa é a melhor porta por onde poderá sair e as próprias “águas”
clarificar-se-ão. Há gente desejosa de governar o País e com as forças e a
disposição que já não possui. Nunca alguém apresentou alternativa credível e
que garanta sucesso? Deixe-os mostrar aquilo que são capazes de fazer. Por
vezes as crianças precisam de mais um tombo, para conhecerem bem o terreno que
pisam. Sim, poderá voltar ao poder quem deixou o País numa situação de
pré-falência, mas o que o actual governo tem feito está a colocar os
portugueses numa situação cada vez pior. Minuto após minuto, só aumentará o
próprio prejuízo de tempo para si e para o País. Não queira ver-se numa
situação muito deplorável, lamentando-se depois de nunca ter imaginado que isso
pudesse mesmo acontecer! Sim, haverá uma hipótese, remota, de a MOÇÃO DE
CONFIANÇA passar…
Porém, agora, chegou a hora de ABALAR.
Certamente, isto é uma análise um tanto materialista, pois a
verdadeira crise global é outra, bem mais essencial e profunda, que tem a ver
com a própria sobrevivência civilizacional. A presunção científica, a
auto-suficiência e o relativismo irão ter à sua frente bem cedo um tremendo
desafio: as calamidades naturais, que a loucura humana foi atraindo com toda a
sua negatividade, um egoísmo feroz e o desrespeito por aquilo que nos
transcende: os idosos, nas suas convicções morais e sabedoria; as crianças, na
sua pureza e inocência; a sexualidade, na sua beleza e autenticidade; a própria
vida, na sua fase mais sagrada, misteriosa e indefesa. Mas, então, através das
“dores de parto”, se farão novas também todas as coisas! “Quem estiver de pé,
veja lá, que não caia”…
www.myspace.com/rac.one
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